NOVA IORQUE: UMA LIÇÃO DE FELICIDADE
- Daniela Devides

- 15 de dez.
- 4 min de leitura

Nova Iorque. O nome por si só já é um convite à imaginação: arranha-céus que arranham o céu, táxis amarelos em uma dança incessante, a promessa de sonhos gigantes. Cheguei à Big Apple com uma mistura de euforia e uma pontada de apreensão. Como uma estudiosa da Psicologia Positiva, a ciência da felicidade, havia uma pergunta fixa em minha mente: seria possível encontrar o bem-estar subjetivo em um lugar tão frenético, onde a busca incessante por "mais" parece ser o texto principal? Meu desafio era desvendar as batidas do coração feliz de NYC.
A primeira experiência foi no epicentro do paradoxo: a Times Square. Não era um lugar, era um impacto. O barulho ensurdecedor, os outdoors piscando em uma coreografia luminosa que parecia gritar "olhe para mim!" e a multidão um rio humano em constante fluxo. Por um instante, senti-me engolida. O caos ameaçava ocupar todos os meus sentidos.
Respirei fundo e decidi não lutar contra a corrente, mas me render a ela. De repente, não era mais a observadora externa, mas parte integrante daquele espetáculo surreal. A música que vinha de uma loja, as luzes que explodiam em padrões e os artistas de rua com suas performances inesperadas, tudo se misturou em uma experiência hipnotizante. Senti a mente totalmente absorvida, o tempo deixou de existir. Ali, no meio de milhões de flashes, aprendi a sentir a vida em sua forma mais verdadeira e autêntica. Era a felicidade do estar presente, do flow, da imersão total.
A Brooklyn Bridge, foi um rito de lugar inesquecível. Cada passo com o vento cortante no rosto, a imensidão do rio e, à frente, a silhueta que jamais se cansa de inspirar: o skyline de Manhattan. Não eram apenas edifícios; eram monumentos à ambição, à resiliência de um povo que reconstrói e se reinventa. A cidade inteira parecia ecoar o seguinte propósito: construir, inovar, persistir. Lembrei-me dos meus próprios sonhos, dos meus próprios esforços. Nova Iorque, com sua imensidão, me fez sentir pequena, sim, mas incrivelmente conectada à força do potencial humano.
Havia, contudo, um lugar que prometia uma introspecção mais profunda, um mergulho na memória e na resiliência humana: o Memorial 11 de Setembro. Caminhar por aquele espaço sagrado foi como pisar em um silêncio, um contraste chocante com a algazarra da cidade que o rodeia. As duas piscinas espelhadas, com suas cascatas eternas onde antes se erguiam as Torres Gêmeas, são um vazio que fala alto. Em meio aos nomes gravados em bronze, senti uma onda de tristeza. Não era apenas sobre lembrar a perda, mas sobre honrar a capacidade humana de encontrar significado na dor, de se reerguer e de continuar a florescer. Naquele espaço de luto e reverência, a Psicologia Positiva me mostra que mesmo nas maiores adversidades, a semente da esperança e da força humana persiste.
Para equilibrar a alma, e mergulhar em outra faceta da riqueza emocional de Nova Iorque, entreguei-me aos encantos da Broadway. Aquela fila animada para entrar, o burburinho pré-espetáculo e a expectativa verdadeira no ar. No escuro acolhedor de um teatro, a experiência atingiu seu ápice. Com a peça Moulin Rouge fui completamente transportada. Senti meu coração se expandir com a beleza da narrativa, a força das vozes, a sincronia dos dançarinos e a emoção compartilhada da plateia. Foi um lembrete vívido de como a arte pode nos transportar, nos fazer sentir profundamente e nos oferecer novas perspectivas.
Os museus de classe mundial, como o MoMA ou o MET, abriram portas para a minha maior força de caráter: amor pelo aprendizado. A diversidade cultural de diferentes bairros destacou a beleza das conexões humanas e da autenticidade. Em cada canto, uma nova história, uma nova perspectiva, confirmando que a riqueza da vida reside na pluralidade e na capacidade de nos relacionarmos uns com os outros, fortalecendo nossos laços e expandindo nossa visão de mundo.
Ao final, o Central Park, longe dos arranha-céus, encontrei a serenidade e a conexão com a natureza que são essenciais para o bem-estar. Nova-iorquinos, conhecidos por sua pressa, desaceleravam para um piquenique ou uma corrida, praticando a atenção plena em meio a paleta de cor maravilhosa de outono. O parque é um lembrete vívido de que a vitalidade e a alegria podem ser encontradas na simples presença e interação com o mundo ao redor.
Nova Iorque não me deu respostas prontas. Ela me ensinou que a felicidade não é uma ilha intocada, mas um vasto e complexo oceano, com ondas de caos e calmaria. É a escolha consciente de como surfamos essas ondas, de como encontramos propósito, conexão, engajamento e emoções positivas mesmo em meio à agitação mais estrondosa e às mais profundas lembranças.
Minha viagem à Big Apple não foi apenas sobre riscar pontos turísticos de uma lista; foi sobre ver a mim mesma sob uma nova luz. Foi entender que a Ciência da Felicidade não é um manual rígido, mas uma bússola interna, que pode nos guiar e nos fazer florescer em qualquer canto do mundo, e, por vezes, os lugares mais inesperados são aqueles que mais nos inspiram a encontrá-la. Nova Iorque, com sua alma vibrante, suas memórias profundas e sua dança incessante, provou ser a maior inspiração para a minha própria felicidade. Amei.
Daniela Devides, especialista em Educação Socioemocional
e Psicologia Positiva, pós-graduada pela PUCRS, escritora,
palestrante, mantenedora do Colégio Degrau de Araçatuba.




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