A BELEZA INPERFEITA DA VIDA DOS ADOLESCENTES

O mês de setembro, em seu tom amarelo vibrante, nos convida a uma reflexão profunda sobre a valorização da vida e a prevenção do suicídio. É uma campanha que a cor se instala em cada um de nós como um lembrete urgente: falar sobre saúde mental é essencial, especialmente quando se trata de nossos jovens.

Recentemente, no Colégio Degrau, tive a oportunidade de conversar com os alunos do Ensino Médio sobre o Setembro Amarelo. E ao me preparar para essa conversa, percebi que não bastava apenas informar; era preciso gerar conexão, tocar o coração e, acima de tudo, legitimar as dores e os desafios que eles enfrentam diariamente.

Nossos adolescentes vivem em um mundo de "highlights", onde as redes sociais pintam um cenário de vidas perfeitas, de sorrisos eternos e de conquistas ininterruptas. É como se cada um carregasse um "filtro" invisível, não apenas nas fotos, mas na própria maneira de apresentar a vida. Eles veem um feed perfeito, vibrante e, muitas vezes, inatingível. E quando olham para suas próprias vidas, com provas desafiadoras, corações partidos, inseguranças com a própria imagem, ansiedade sobre o futuro e a pressão constante de ser e ter, surge a pergunta silenciosa e angustiante: "Por que a minha vida não é assim? O que está errado comigo?"

Essa é a grande armadilha da comparação. A vida real, com seus altos e baixos, desafios e aprendizados, raramente encontra espaço nos "stories" editados. E é justamente nessas lacunas que a pressão se instala, o medo de não ser bom o suficiente se torna gigante e, muitas vezes, um vazio se manifesta.

Para pais, mães e educadores, é fundamental entender que as dores desses adolescentes são reais e legítimas. A ansiedade antes do vestibular, o luto por uma amizade que se desfez, a frustração de não corresponder às expectativas e o sentimento de não pertencimento, tudo isso pode ser esmagador. O problema nunca é sentir, mas sim a sensação de que é preciso esconder, silenciar, engolir.

Minha conversa, buscou justamente desmistificar essa ideia. Ninguém é forte e feliz o tempo todo. A beleza da vida não reside na ausência de problemas, mas na capacidade de atravessá-los, de se levantar após uma queda, de aprender com as cicatrizes e de entender que cada dificuldade superada é um novo degrau para a maturidade. Apesar de todos os filtros e pressões externas, cada um deles carrega uma ferramenta incrível: a capacidade inata de apagar os pensamentos negativos que nos aprisionam e de suavizar as marcas das críticas internas e externas reescrevendo as narrativas que nos diminuem.

Nossa responsabilidade é ser o suporte. É criar um ambiente onde o diálogo seja aberto, onde o pedir ajuda seja visto como um ato de coragem e não de fraqueza. É ser o ouvinte atento, o verdadeiro porto seguro.

O Setembro Amarelo é um chamado à empatia. É um convite para olharmos além do que é mostrado na superfície, para percebermos os sinais sutis e para estendermos a mão. Nossos adolescentes são um universo de potencial, uma beleza incrivelmente imperfeita de uma vida que é um presente inestimável. Que possamos, juntos, inspirá-los a usar suas ferramentas para reescrever um futuro de esperança, autenticidade e felicidade.

Porque a vida de cada um deles importa. MUITO.

Por Daniela Devides, especialista em Educação Socioemocional

e Psicologia Positiva, pós-graduada pela PUCRS, escritora,

palestrante, mantenedora do Colégio Degrau de Araçatuba.